200 esculturas e telas de Amilcar de Castro.
Artista dobrou com leveza e poesia materiais pesados como aço e ferro
As esculturas de médio porte de
Amilcar, em primeiro plano, e o conjunto de pequenas esculturas,
nas estantes
ao fundo - Leo Martins / Agência O Globo
RIO —
Professor de História da Arte há mais de 30 anos, o curador, ensaísta e
pesquisador Paulo Sergio Duarte tem se deparado com o pouco conhecimento dos
jovens que assistem às suas aulas sobre a produção artística não contemporânea,
desinformação que põe num mesmo saco — o do passado, não importa se remoto ou
próximo — Cézanne ou as pinturas nas cavernas de Lascaux .
— É tudo
muito distante para eles — diz Duarte.
Isso, aliado
ao fato de que a arte brasileira dos anos 1950 e 60 parece ser uma incógnita para
a nova geração, fez com que Duarte se debruçasse sobre um dos maiores nomes da
escultura brasileira, cuja obra tomou forma e se desenvolveu a partir daquele
período: o mineiro Amilcar de Castro (1920-2002).
“Amilcar de
Castro”, exposição com sua curadoria, será aberta nesta quarta-feira ao
público, no Museu de Arte Moderna, com o objetivo de apresentar as várias
facetas do artista que, ao cortar e dobrar grandes superfícies de ferro, criou
uma nova relação poética com o espaço.
— A
exposição visa a apresentar o conjunto da obra de Amilcar, seu método,
principalmente para as novas gerações — diz Duarte.
“Amilcar de
Castro” ocupa o Salão Monumental do museu com esculturas de médio e pequeno
porte, principalmente em ferro e aço córten. Há ainda peças em madeira, vidro e
mármore, que vinha realizando na última década de vida, além de pinturas e
exemplares de jornal que mostram seu trabalho gráfico (ele é autor da reforma
gráfica que modernizou o “Jornal do Brasil” em 1957 e colaborou como ilustrador
da Resenha Literária da “Folha de S. Paulo”). E se espalha pelo pilotis da
instituição, com quatro esculturas de grande porte, de até dez toneladas,
vindas do Instituto Amilcar de Castro, em Nova Lima (MG). Uma quinta escultura,
doada ao MAM pelo poeta Ferreira Gullar, companheiro de movimento neoconcreto,
está no jardim.
— Amilcar
faz parte de um momento importante da arte brasileira, o movimento construtivo,
em que pela primeira vez as obras conversavam entre si pela linguagem, e não
pela relação entre seus autores ou outro fator alheio à própria arte. E a obra
de Amilcar é um dos pilares desse período — diz Duarte, que, como diretor do
Paço Imperial, em 1989, promoveu a primeira mostra do artista numa instituição
pública, com curadoria de Glória Ferreira.
Ao todo, a
exposição atual reúne mais de 200 peças, sendo que 140 delas, de pequeno porte,
estão agrupadas como uma única obra, num conjunto que impressiona pela
harmonia. Na parede, há um conjunto de pinturas que o artista preferia chamar
de desenhos. O curador observa que Amilcar usava uma vassoura como pincel e
que, apesar de abstratos, os “desenhos” carregam “um desejo construtivo”:
— Não é um
abstracionismo lírico. Elas são feitas de uma vez só, você vê uma decisão na
construção gestual — diz.
Duarte ainda
chama a atenção para a força poética que emana da obra do artista:
— Houve uma
expansão na arte contemporânea muito grande, mas pouca demanda por intensidade
poética. Não importa se é um vídeo de três minutos, se é arte engajada, isso
não reduz a importância da exigência poética, que está presente na obra de
Amilcar. Ao inventar um espaço próprio, suas esculturas modificam o espaço
comum e criam uma experiência espacial para cada indivíduo.
compartilhado de http://oglobo.globo.com - matéria de NANI RUBIN