COMPARTILHADO DA FOLHA DE SÃO PAULO / LAURA MATTOS / EDITORA DA "FOLHINHA"
Em entrevista à "Folhinha", ele fala sobre a premiação (a ser entregue às 20h do horário de Brasília), sobre o seu trabalho e dá dicas para crianças que gostam de desenhar. Confira abaixo:
Folha - Como você se sente ao receber esse prêmio tão importante?
Roger Mello - Estou muito feliz! Fiquei encantado com essa honra. O Ibby, que concede o prêmio Hans Christian Andersen, é um organismo internacional muito atuante e tem como filosofia levar a literatura de qualidade para todas as crianças, unificando os povos. Pensamento esse que também me move. A FNLIJ (Fundação Nacional do Livro Infantil e Juvenil) é a seção brasileira do Ibby que indica os escritores e ilustradores para o prêmio, possibilitando que o júri conheça a nossa produção literária. Além disso, Hans Christian Andersen é um exemplo para mim, com sua notável obra, rompendo as fronteiras entre ficção e filosofia, como um viajante e um pensador, ele próprio um pesquisador e criador de imagens sempre em movimento, que levou sua literatura a todos os lugares sem esquecer seu entorno e as especificidades de sua terra, o humano, a paisagem. Foi um prêmio muito comemorado pelos ilustradores do Brasil e da América Latina e é verdadeiramente um prêmio para todos os narradores visuais latino-americanos.
Como você definiria o seu trabalho?
Sempre me preocupo para que cada nova narrativa seja um livro-arte. Minha intenção é que o leitor possa criar diferentes interações com a história e com o objeto livro. Como também sou autor de textos teatrais e diretor, meus livros sofrem as influências desse universo, aproximando, assim, o trabalho de confeccionar livros com o de construir cenários moventes, que possam provocar no leitor a surpresa e o envolvimento. A ideia seria convidar cada criança a participar do instante poético que em que crio as imagens e as palavras. Tento inventar ou me surpreender, podendo usar várias linguagens e técnicas artísticas. Apesar de ser um admirador dos aspectos culturais que nos cercam, considero que a narrativa tenha uma construção universal, portanto, as particularidades dos personagens transbordam as linhas e cenários das histórias.
O que você pensa sobre ilustrar para crianças? É diferente do que ilustrar para adultos?
Quando ilustro ou escrevo, ou seja, quando crio uma narrativa, não penso se estou fazendo isso para crianças ou adultos. Um livro só ilustrado não é só para crianças. A imagem não tem idade. Minha preocupação é que esse objeto possa contribuir com a ampliação do olhar do leitor. Que possa trazer novas informações, reforçar alguns conhecimentos, causar estranhamentos em outros momentos. Que desloque o leitor, que o tire da zona de conforto. Muitas vezes o livro é o primeiro acesso a um museu portátil para esse leitor.
Que dicas dá para uma criança que queira trabalhar com desenhos?
Que não pare de desenhar. Estou constantemente desenhando o que vejo e o que sinto. Quem desenha precisar ler muita literatura e também ter acesso a ilustrações, às artes plásticas, ao cinema, enfim, a imagens. A boas imagens! Uma outra questão é que a criança sempre procure criar e imaginar sem se preocupar em copiar os objetos, pessoas, cenários. Que a sua ideia sobre algo prevaleça a imagens preconcebidas.