domingo, 4 de agosto de 2013

Estudo atesta pico de euforia no mercado brasileiro de arte

Estudo atesta pico de euforia no mercado brasileiro de arte



SILAS MARTÍ
FOLHA DE DE SÃO PAULO

Novos números comprovam a sensação de euforia no mercado de arte brasileiro, que cresceu 22,5% em 2012, três vezes a média mundial, de 7%, segundo um último levantamento de dados. As galerias de arte contemporânea chegaram à arrecadação de R$ 250 milhões ao ano, enquanto preços de obras subiram em média 15%, bem acima da inflação do período.
Outro dado também surpreende. Segundo um relatório da secretaria paulista da Fazenda obtido pela Folha, a última edição da feira SP-Arte, em abril, declarou R$ 99 milhões em vendas, mais do que o dobro de 2012, quando registrou R$ 49 milhões.
Essa é apenas uma fração do total dos negócios da feira, já que só as comercializações com isenção de impostos estaduais --no caso, as vendas de algumas obras importadas-- precisam ser declaradas dessa forma. O faturamento total pode ter superado R$ 300 milhões porque essas transações respondem por pouco menos de um terço do total das galerias.
Editoria de Arte/Folhapress
Números do estudo mais recente do projeto Latitude, que reúne a Agência Brasileira de Promoção de Exportações e a Associação Brasileira de Arte Contemporânea, obtidos com exclusividade pela Folha, também mostram que o mercado brasileiro está mais internacional, com artistas estrangeiros representando 22,5% dos times das maiores galerias nacionais.
Mas galeristas e agentes de mercado relutam em estourar garrafas de champanhe.
"As vendas têm sido bem firmes, mas é fato que o gelo da festa acabou", diz Marcia Fortes, sócia da galeria Fortes Vilaça. "Artistas jovens no Brasil custam muito caro, então a tendência é estabilizar."
Ou seja, após atingir um pico, o mercado está mais maduro, com crescimento "consistente e linear", segundo Ana Letícia Fialho, do projeto Latitude. Mas galeristas preveem uma desaceleração.
COMPASSO DE ESPERA
Num cenário político e macroeconômico conturbado, com o dólar em disparada, manifestações nas ruas e debandada de investimentos estrangeiros, colecionadores têm ficado mais reticentes.
"Existe um compasso de espera agora", diz André Millan, um dos donos da galeria Millan. "É lógico que as vendas estão caindo. As pessoas estavam comprando trabalhos como se fossem caixas de Bis. Agora há um tom de reclamação entre as galerias, não a euforia sem sentido."
Divulgação
Tela 'Meu Limão', de Beatriz Milhazes, vendida por US$ 2,1 milhões
Tela 'Meu Limão', de Beatriz Milhazes, vendida por US$ 2,1 milhões
Mas se o Brasil desacelera, uma saída é o mercado estrangeiro. Segundo dados do Latitude, que serão divulgados na quinta-feira (25), só 11,5% dos clientes das galerias do país são estrangeiros, mas 50% dessas casas participam de feiras no exterior e 30% têm parcerias com casas de fora.
"Galerias estão vendo a internacionalização como estratégia de sobrevivência, para quando o mercado interno não estiver tão dinâmico", diz Monica Esmanhotto, gerente executiva do Latitude. "Estava todo mundo acomodado, e agora vemos as galerias saírem da zona de conforto."
Outros agentes de mercado também devem se mexer.
Jones Bergamin, da Bolsa de Arte, a maior casa de leilões do Brasil, afirma que o setor não deve sofrer uma queda brusca nas vendas, mas precisa lidar agora com a escassez de obras-primas na praça, as chamadas "blue chip", que são vendidas com facilidade mesmo em momentos mais turbulentos.
Um exemplo é uma tela de Adriana Varejão leiloada neste mês --com lance inicial de R$ 700 mil, a peça foi arrematada depois por R$ 1,5 milhão.
"Uma obra-prima tem liquidez imediata, é fácil vender", diz a consultora de arte Cecília Ribeiro. "Mas o problema, agora, é que não estão aparecendo essas coisas excepcionais no mercado."

Ferreira Gullar não se comove com momento das artes visuais



 
compartilhado da FOLHA DE SÃO PAULO
Em "A Menina Cláudia e o Rinoceronte", Gullar assina as ilustrações. No livro, Cláudia tenta ajudar uma rinoceronte a engravidar.
Este é o quarto livro de Gullar com a proposta das colagens --já ganhou um prêmio Jabuti de ilustração com um deles,"Bananas Podres".
Sobre esta surpreendente faceta do consagrado poeta, ele comenta, em tom de brincadeira: "Estou virando artista plástico sem querer".
"Descobri o acaso como uma coisa altamente criativa para mim", acrescenta ele, que tem sólida carreira como ensaísta em artes plásticas.
Cecilia Acioli/Folhapress
Autorretrato que Gullar tinha dado a Vinicius de Moraes
Autorretrato que Gullar tinha dado a Vinicius de Moraes
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Folha - Por que o acaso?
Como não tenho motivação especial, o acaso sugere caminhos. Inclusive eu acho que esse processo de jogar os papéis à toa devia ser adotado nos colégios, porque qualquer criança pode começar a criar a partir disso. Quando estou fazendo esse trabalho é como se fosse um garoto.
O poema também é fruto do acaso?
O poema é exatamente o contrário, por isso estou há vários anos sem escrever. Porque se não sou levado pelo espanto, não escrevo. A poesia mesmo nasce de um estado de espírito de perplexidade diante do mundo. Não é algo que você faça porque quer. O poema utiliza a linguagem verbal, que é organizada.
Considera-se artista plástico?
Não, eu faço como hobby, como algo que me distrai e diverte. Estou virando artista plástico sem querer (risos).
Como avalia a produção de artes plásticas atual?
Se o cara bota urubu dentro duma gaiola, ou casais nus dentro de um museu, pra mim isso não é arte. Não me comove. Arte é uma coisa que as pessoas fazem, a natureza não é uma coisa que as pessoas fazem.
Como avalia o momento político atual?
É importante o pessoal protestar contra a situação, isso terá consequências positivas.
Só vejo um problema grave, que é de não haver representatividade política nos protestos. O país para ser governado tem que ter partidos e líderes.
E o comunismo?
O comunismo acabou, ele prestou e cumpriu seu papel como visão revolucionária que alimentou gerações e ajudou o processo social a avançar sobretudo na área do trabalhador, que conquistou mais direitos.

Acervo de Oscar Niemeyer será digitalizado e exposto



Compartilhado folha de São Paulo / MARCO AURÉLIO CANÔNICO


A parte mais valiosa do acervo de Oscar Niemeyer (1907-2012), que inclui croquis e desenhos originais de 342 projetos do arquiteto brasileiro, começará a ser digitalizada neste mês e ficará acessível ao público na internet.
O projeto é uma parceria da Fundação Oscar Niemeyer, entidade sem fins lucrativos criada em 1988 para preservar e divulgar a obra do arquiteto, e do Itaú Cultural.
Serão digitalizados 8.927 documentos produzidos entre 1938 e 2005. Entre os itens que ficarão disponíveis no site www.niemeyer.org.br estão não apenas obras famosas do arquiteto mas também projetos não realizados, como um aeroporto em Brasília e um para o Maracanã.
Divulgação/Acervo Fundação Oscar Niemeyer
Croqui do projeto do Monumento 9 de Novembro, em Volta Redonda (RJ), feito para lembrar operários mortos em 1988
Croqui do projeto do Monumento 9 de Novembro, em Volta Redonda (RJ), feito para lembrar operários mortos em 1988
"Até hoje, não havia uma preocupação em fazer divulgação do acervo", diz Carlos Ricardo Niemeyer, 45, bisneto do arquiteto e diretor de licenciamento da fundação. "O Oscar continuava em atividade e preferia destacar os projetos em que estava trabalhando, tinha menos interesse no que já tinha sido produzido. Agora [após sua morte], faz mais sentido dar visibilidade a esse material."
Segundo o diretor, além de servir como registro de uma forma de trabalhar que foi substituída pelos softwares e ferramentas digitais, o acervo é uma mostra do processo criativo de Niemeyer.
"Boa parte desses materiais são álbuns que o Oscar produzia para apresentar projetos. Ele desenhava e escrevia o que chamava de 'explicações necessárias'. Muitas vezes, ao escrever sobre os projetos, ele percebia que precisava fazer alterações."
O acervo de Niemeyer também servirá de base para uma exposição, que será aberta em junho de 2014, no Itaú Cultural, em São Paulo, com curadoria de Lauro Cavalcanti, diretor do Paço Imperial, no Rio --para onde a mostra segue depois.
A data coincide propositalmente com a Copa do Mundo. "Niemeyer é internacionalmente conhecido, então queremos oferecer essa exposição não só para os brasileiros mas também para os estrangeiros que estiverem em São Paulo", diz Eduardo Saron, diretor do Itaú Cultural.
Divulgação/Acervo Fundação Oscar Niemeyer
Prancha de projeto do Centro Espiritual dos Dominicanos
Prancha de projeto do Centro Espiritual dos Dominicanos
Antes disso, possivelmente em dezembro --mês de nascimento e morte do arquiteto--, o instituto organizará um seminário para discutir o legado de Niemeyer. "A ideia é que parte desse material do seminário e da exposição também esteja na internet", diz Saron.
A primeira fase da digitalização durará cerca de quatro meses. Paralelamente, a equipe técnica cuidará do tratamento e da catalogação do resto do acervo (fotos, textos e outros documentos), que também será digitalizado.