quinta-feira, 16 de maio de 2013

Marilena Chauí ...


Para Chauí, ditadura iniciou devastação física e pedagógica da escola pública

por Paulo Donizetti de Souza, Rede Brasil Atual publicado 29/03/2012 
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"Você saía de casa para dar aula e não sabia se ia voltar, se ia ser preso, se ia ser morto. Não sabia." (Foto: Gerardo Lazzari/ Sindicato dos Bancários)
São Paulo – Violência repressiva, privatização e a reforma universitária que fez uma educação voltada à fabricação de mão-de-obra, são, na opinião da filósofa Marilena Chauí, professora aposentada da Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas da USP, as cicatrizes da ditadura no ensino universitário do país. Chauí relembrou as duras passagens do período e afirma não mais acreditar na escola como espaço de  formação de pensamento crítico dos cidadãos, mas sim em outras formas de agrupamento, como nos movimentos sociais, movimentos populares, ONGs e em grupos que se formam com a rede de internet e nos partidos políticos. 
Chauí, que "fechou as portas para a mídia" e diz não conceder entrevistas desde 2003, falou à Rede Brasil Atual após palestra feita no lançamento da escola 28 de de Agosto, iniciativa do Sindicato dos Bancários de São Paulo que elogiou por projetar cursos de administração que resgatem conteúdos críticos e humanistas dos quais o meio universitário contemporâneo hoje se ressente.
Quais foram os efeitos do regime autoritário e seus interesses ideológicos e econômicos sobre o processo educacional do Brasil?
Vou dividir minha resposta sobre o peso da ditadura na educação em três aspectos. Primeiro: a violência repressiva que se abateu sobre os educadores nos três níveis, fundamental, médio e superior. As perseguições, cassações, as expulsões, as prisões, as torturas, mortes, desaparecimentos e exílios. Enfim, a devastação feita no campo dos educadores. Todos os que tinham ideias de esquerda ou progressistas foram sacrificados de uma maneira extremamente violenta.
Em segundo lugar, a privatização do ensino, que culmina agora no ensino superior, começou no ensino fundamental e médio. As verbas não vinham mais para a escola pública, ela foi definhando e no seu lugar surgiram ou se desenvolveram as escolas privadas. Eu pertenço a uma geração que olhava com superioridade e desprezo para a escola particular, porque ela era para quem ia pagar e não aguentava o tranco da verdadeira escola. Durante a ditadura, houve um processo de privatização, que inverte isso e faz com que se considere que a escola particular é que tem um ensino melhor. A escola pública foi devastada, física e pedagogicamente, desconsiderada e desvalorizada.
E o terceiro aspecto?
A reforma universitária. A ditadura introduziu um programa conhecido como MEC-Usaid, pelo Departamento de Estado dos Estados Unidos, para a América Latina toda. Ele foi bloqueado durante o início dos anos 1960 por todos os movimentos de esquerda no continente, e depois a ditadura o implantou. Essa implantação consistiu em destruir a figura do curso com multiplicidade de disciplinas, que o estudante decidia fazer no ritmo dele, do modo que ele pudesse, segundo o critério estabelecido pela sua faculdade. Os cursos se tornaram sequenciais. Foi estabelecido o prazo mínimo para completar o curso. Houve a departamentalização, mas com a criação da figura do conselho de departamento, o que significava que um pequeno grupo de professores tinha o controle sobre a totalidade do departamento e sobre as decisões. Então você tem centralização. Foi dado ao curso superior uma característica de curso secundário, que hoje chamamos de ensino médio, que é a sequência das disciplinas e essa ideia violenta dos créditos. Além disso, eles inventaram a divisão entre matérias obrigatórias e matérias optativas. E, como não havia verba para contratação de novos professores, os professores tiveram de se multiplicar e dar vários cursos. 
"Fazer uma universidade comprometida com o que se passa na realidade social e política se tornou uma tarefa muito árdua e difícil"
Houve um comprometimento da inteligência?
Exatamente. E os professores, como eram forçados a dar essas disciplinas, e os alunos, a cursá-las, para terem o número de créditos, elas eram chamadas de “optatórias e obrigativas”, porque não havia diferença entre elas. Depois houve a falta de verbas para laboratórios e bibliotecas, a devastação do patrimônio público, por uma política que visava exclusivamente a formação rápida de mão de obra dócil para o mercado. Aí, criaram a chamada licenciatura curta, ou seja, você fazia um curso de graduação de dois anos e meio e tinha uma licenciatura para lecionar. Além disso, criaram a disciplina de educação moral e cívica, para todos os graus do ensino. Na universidade, havia professores que eram escalados para dar essa matéria, em todos os cursos, nas ciências duras, biológicas e humanas. A universidade que nós conhecemos hoje ainda é a universidade que a ditadura produziu. 
Essa transformação conceitual e curricular das universidade acabou sendo, nos anos 1960, em vários países, um dos combustíveis dos acontecimentos de 1968 em todo mundo.
Foi, no mundo inteiro. Esse é o momento também em que há uma ampliação muito grande da rede privada de universidades, porque o apoio ideológico para a ditadura era dado pela classe média. Ela, do ponto de vista econômico, não produz capital, e do ponto de vista política, não tem poder. Seu poder é ideológico. Então, a sustentação que ela deu fez com que o governo considerasse que precisava recompensá-la e mantê-la como apoiadora, e a recompensa foi garantir o diploma universitário para a classe média. Há esse barateamento do curso superior, para garantir o aumento do número de alunos da classe média para a obtenção do diploma. É a hora em que são introduzidas as empresas do vestibular, o vestibular unificado, que é um escândalo, e no qual surge a diferenciação entre a licenciatura e o bacharelato. 
Foi uma coisa dramática, lutamos o que pudemos, fizemos a resistência máxima que era possível fazer, sob a censura e sob o terror do Estado, com o risco que se corria, porque nós éramos vigiados o tempo inteiro. Os jovens hoje não têm ideia do que era o terror que se abatia sobre nós. Você saía de casa para dar aula e não sabia se ia voltar, não sabia se ia ser preso, se ia ser morto, não sabia o que ia acontecer, nem você, nem os alunos, nem os outros colegas. Havia policiais dentro das salas de aula.
Houve uma corrente muito forte na década de 60, composta por professores como Aziz Ab'Saber,  Florestan Fernandes, Antonio Candido, Maria Vitória Benevides, a senhora, entre outros, que queria uma universidade mais integrada às demandas da comunidade. A senhor tem esperança de que isso volte a acontecer um dia?
Foi simbólica a mudança da faculdade para o “pastus”, não é campus universitário, porque, naquela época, era longe de tudo: você ficava em um isolamento completo. A ideia era colocar a universidade fora da cidade e sem contato com ela. Fizeram isso em muitos lugares. Mas essa sua pergunta é muito complicada, porque tem de levar em consideração o que o neoliberalismo fez: a ideia de que a escola é uma formação rápida para a competição no mercado de trabalho. Então fazer uma universidade comprometida com o que se passa na realidade social e política se tornou uma tarefa muito árdua e difícil. 
"Esse é o momento também em que há uma ampliação muito grande da rede privada de universidades, porque o apoio ideológico para a ditadura era dado pela classe média"
Não há tempo para um conceito humanista de formação?
É uma luta isolada de alguns, de estudantes e  professores, mas não a tendência da universidade.
Hoje, a esperança da formação do cidadão crítico está mais para as possibilidades de ajustes curriculares no ensino fundamental e médio? Ou até nesses níveis a educação forma estará comprometida com a produção de cabeças e mãos para o mercado?
Na escola, isso, a formação do cidadão crítico, não vai acontecer. Você pode ter essa expectativa em outras formas de agrupamento, nos movimentos sociais, nos movimentos populares, nas ONGs, nos grupos que se formam com a rede de internet e nos partidos políticos. Na escola, em cima e em baixo, não. Você tem bolsões, mas não como uma tendência da escola.

Christie's: recorde de quase US$ 500 milhões em leilão de arte


Christie's: recorde de quase US$ 500 milhões em leilão de arte


AFP - Agence France-Presse

Um leilão de arte contemporânea da casa Christie's em Nova York terminou na quarta-feira e registrou a quantia de quase 500 milhões de dólares, a maior da história neste tipo de venda, incluindo uma obra de Jackson Pollock negociada por US$ 58,4 milhões.

Número 19, 1948

Jackson Pollock (1912-1956)
número 19 de 1948
, assinada e datada "Jackson Pollock 48 '(canto superior esquerdo)
de óleo e esmalte sobre papel montado sobre tela
30 7/8 x 22 5/8 polegadas (78,4 x 57,4 centímetros).
Pintado em 1948.

A Christie's informou que a venda alcançou o total de 495,02 milhões de dólares e que 94% dos lotes oferecidos encontraram compradores. Nove obras foram vendidas por mais de 10 milhões de dólares e outras 23 superaram cinco milhões.
De acordo com a empresa, este é o maior valor arrecadado em um leilão de arte contemporânea na história.
"É a maior quantia alcançada na história dos leilões", disse Brett Gorvy, presidente e diretor internacional de arte do pós-guerra e contemporânea da Christie's.
"Os preços recordes estabelecidos refletem uma nova era no mercado de arte, no qual colecionadores experientes e novos compradores disputam no mais alto nível, dentro de um mercado global", disse Gorvy.
Uma pintura de Jackson Pollock, feita no auge criativo do artista americano, foi vendida pelo valor recorde de US$ 58,4 milhões.
O quadro "Number 19, 1948", um dos mais representativos do estilo "pintura de gotejamento" de Pollock, tem uma reluzente mistura de prata, preto, branco, vermelho e verde.
A expectativa inicial de venda era de US$ 25 milhões a US$ 35 milhões. A quantia alcançada representa um novo recorde em um leilão para o artista, cujas pinturas supostamente foram vendidas por valores ainda maiores em acordos privados, uma informação nãp confirmada.
A Christie's também vendeu um Jean Michel Basquiat ("Dustheads") por US$ 48,8 milhões, bastante acima da estimativa de pré-venda, também entre US$ 25 milhões e US$ 35 milhões. Outro recorde em um leilão para uma obra deste pintor americano.
Jean-Michel Basquiat (1960-1988) 
Dustheads 
assinado, datado e intitulado 'DUSTHEADS Jean-Michel Basquiat 82' (no sentido inverso) 
acrílico, oilstick, esmalte spray e pintura metálica sobre tela 
72 x 84 polegadas (182,8 x 213,3 centímetros. ) 
Pintado em 1982.
"Woman with flowered hat", de Roy Lichtenstein, foi vendido por 56,1 milhões de dólares, em mais um recorde para uma obra do artista.
Roy Lichtenstein, mulher com chapéu florido (1963), através da Christie
Roy Lichtenstein (1923-1997) 
Mulher com chapéu florido 
assinado e datado 'rf Lichtenstein '63' (no sentido inverso) 
Magna sobre tela 
50 1/8 x 40 ¼ polegadas (127,3 x 102,2 centímetros). 
Pintado em 1963.
Este é um trabalho pouco comum de Lichtenstein, grande figura da pop art, que ficou conhecido pelas pinturas que imitam o estilo das tiras cômicas, mas que nesta obra utilizou seu estilo meticuloso para parodiar o cubismo de Picasso.
O maior preço pago até então por uma obra de Lichtenstein havia sido 44,9 milhões de dólares.
O sucesso da Christie's aconteceu um dia depois da rival, a casa Sotheby's, ter registrado recordes com a venda por 43,8 milhões de dólares de "Onement VI" de Barnett Newman, uma das maiores figuras do expressionismo abstrato.
Onement VI, obra de Barnet Newman arrematada por 43,84 milhões de dólares na Sotheby's de Nova York
Pintura de 1953, intitulado "unicidade VI" por expressionista abstrato Barnett Newman

No mesmo leilão, a obra de Gerhard Richter "Domplatz, Mailand" foi vendida por 37,1 milhões de dólares, um novo recorde para uma obra de um artista vivo.