O lucrativo negócio da arte brasileira
- Primeiro fundo de investimento do gênero, Brazil Golden Art já calcula 200% de valorização dos 600 trabalhos que adquiriu desde 2011 e mostra parte de sua coleção no MuBE de São Paulo
RIO - SE TIVESSEM DADO INÍCIO AO PROJETO — UM FUNDO DE INVESTIMENTO EM ARTE — HÁ 20 ANOS, HEITOR REIS E SEUS SÓCIOS PROVAVELMENTE NÃO TERIAM VENDIDO EM APENAS 15 DIAS TODAS AS 70 COTAS (DE “MAGROS” R$ 100 MIL A POLPUDOS R$ 5 MILHÕES) PARA COMPRAR OBRAS E FORMAR UMA COLEÇÃO BRASILEIRA
Embora os termos usados por Reis, sócio e curador da “coleção BGA”, sejam mais próximos do mercado financeiro (costuma falar, por exemplo, em “precificação”), ele tratou de aproximar o negócio do circuito institucional. Conseguiu espaço para expor um recorte do que já foi adquirido — 80 trabalhos podem ser vistos no MuBE (Museu Brasileiro da Escultura), em São Paulo, desde o fim do ano passado.
Museu Brasileiro da Escultura Avenida Europa, 218 Jardim Europa - S. PauLO
— Depois de um ano e meio, continuamos com a tese de otimismo absoluto em relação à arte contemporânea brasileira, à precificação, à valorização e ao reconhecimento dela no mercado internacional enquanto dinheiro, enquanto produto financeiro — afirma.
O “otimismo absoluto” é a resposta de Reis aos muitos economistas para quem a arte não é exatamente um negócio seguro e vive agora uma bolha que, a julgar pelos preços exorbitantes, pode estar a caminho de estourar (ou estagnar).
O próprio curador (que divide a sociedade do fundo com ex-CEOs do banco Pactual) vê sinais da bolha mundo afora.
— Dentro de um contexto universal de arte, isso não é brincadeira. Se você passar por 50 galerias em 50 países e olhar os artistas que estão naquelas vitrines, verá obras de US$ 100 mil, US$ 300 mil... e de artistas de quinta categoria!
Do outro lado, segundo ele, está a produção brasileira, cara, mas de qualidade:
— Fiz questão de pontuar os últimos dez anos do mercado: tenho mil exemplos de artistas brasileiros valorizados e, com muito boa vontade, diria que três foram valorizados.
Ele continua, empolgado:
— Nós estamos falando de arte brasileira! Com certeza, ela é o investimento mais seguro que existe atualmente. Sei que é considerado segundo plano, investimento alternativo, diversificação... Mas, dentro de uma perspectiva histórica, nos últimos dez anos, garanto que foi o produto que teve a maior valorização no país!
Reis, que foi diretor do Museu de Arte Moderna da Bahia por quase 20 anos, conta que boa parte dos nomes que hoje integram a coleção do fundo BGA estiveram nos salões de arte realizados pelo museu. Na época, a ficha de inscrição de Henrique Oliveira, por exemplo, dizia que o preço estimado de uma obra dele era de menos de R$ 1.000. Hoje, segundo Reis, o artista paulistano viu seus trabalhos terem entre 200% e 300% de valorização.
— Há 20 anos, não tínhamos isso. Foi um longo e lento processo de amadurecimento não só dos artistas, mas das galerias, dos dealersprivados que, agora, buscam um caminho para se formalizar. O fundo é um deles — defende.
Modelo inglês
Além da sociedade no BGA, Reis está no comitê de um dos mais célebres fundos de investimento em arte, o Fine Art Fund Group. Fundado em 2001 por Philip Hoffman, o grupo inglês tem hoje 40 profissionais de arte e do mercado financeiro em escritórios espalhados na Europa, no Oriente Médio, na Ásia e na América Latina — destinos inevitáveis para o ávido mercado financeiro e de artes visuais.
O Fine Art Fund Group, cujas cotas têm valor mínimo de US$ 500 mil, gerencia muito mais dinheiro que o jovem fundo brasileiro (US$ 150 milhões). E descreve seus objetivos assim: “capitalizar o mercado de arte, promover o crescimento financeiro a longo prazo e diversificar a cartela de investimentos de seus clientes”.
No Brasil, o BGA é ainda único, e, envaidecido, Reis conta que a procura por cotas segue tão frequente que o banco, não menos ávido, já programa criar um novo “produto”.