domingo, 4 de agosto de 2013

Ferreira Gullar não se comove com momento das artes visuais



 
compartilhado da FOLHA DE SÃO PAULO
Em "A Menina Cláudia e o Rinoceronte", Gullar assina as ilustrações. No livro, Cláudia tenta ajudar uma rinoceronte a engravidar.
Este é o quarto livro de Gullar com a proposta das colagens --já ganhou um prêmio Jabuti de ilustração com um deles,"Bananas Podres".
Sobre esta surpreendente faceta do consagrado poeta, ele comenta, em tom de brincadeira: "Estou virando artista plástico sem querer".
"Descobri o acaso como uma coisa altamente criativa para mim", acrescenta ele, que tem sólida carreira como ensaísta em artes plásticas.
Cecilia Acioli/Folhapress
Autorretrato que Gullar tinha dado a Vinicius de Moraes
Autorretrato que Gullar tinha dado a Vinicius de Moraes
*
Folha - Por que o acaso?
Como não tenho motivação especial, o acaso sugere caminhos. Inclusive eu acho que esse processo de jogar os papéis à toa devia ser adotado nos colégios, porque qualquer criança pode começar a criar a partir disso. Quando estou fazendo esse trabalho é como se fosse um garoto.
O poema também é fruto do acaso?
O poema é exatamente o contrário, por isso estou há vários anos sem escrever. Porque se não sou levado pelo espanto, não escrevo. A poesia mesmo nasce de um estado de espírito de perplexidade diante do mundo. Não é algo que você faça porque quer. O poema utiliza a linguagem verbal, que é organizada.
Considera-se artista plástico?
Não, eu faço como hobby, como algo que me distrai e diverte. Estou virando artista plástico sem querer (risos).
Como avalia a produção de artes plásticas atual?
Se o cara bota urubu dentro duma gaiola, ou casais nus dentro de um museu, pra mim isso não é arte. Não me comove. Arte é uma coisa que as pessoas fazem, a natureza não é uma coisa que as pessoas fazem.
Como avalia o momento político atual?
É importante o pessoal protestar contra a situação, isso terá consequências positivas.
Só vejo um problema grave, que é de não haver representatividade política nos protestos. O país para ser governado tem que ter partidos e líderes.
E o comunismo?
O comunismo acabou, ele prestou e cumpriu seu papel como visão revolucionária que alimentou gerações e ajudou o processo social a avançar sobretudo na área do trabalhador, que conquistou mais direitos.