as linhas neuróticas e obsessivas da artista conferem uma
condição ambígua aos desenhos vertiginosos que ora
parecem se auto alimentar e, ora, se autodestruir
Nos desenhos de Marcia de Moraes, a tensão estabelecida
pelas milhares de linhas obsessivas e cores que demarcam
formas, questiona a possibilidade de coexistência entre as
partes que formam um todo. Ora as massas circulares
atraem o olhar para os pontos ou emendas de partes que se
complementam com uma harmonia deslocada, ora as
formas se esparramam para muito além das bordas do
papel e evocam espaços ambíguos externos, onde é travada
uma batalha de angústias psíquicas como as do
surrealismo. Os títulos direcionam a trama psicológica que
as linhas nervosas e neuróticas parecem relembrar ao
ocupar todo o papel. As paisagens delineadas nos
desenhos, que podem levar até um mês para serem
concluídos, permitem que um olhar abstraído se relacione à
distância com topografias superficiais ou que se deixe
imergir, ser sugado pela vertiginosa condição das redes de
cavernas e estruturas tubulares sem começo nem fim. A
dicotomia imposta pelas linhas e cores torna impossível
definir se as topografias psíquicas da artista se
auto alimentam ou autodestroem.